A Organização Precede a Motivação

Nem só de motivação vive o homem. Para Viver tem também de se adaptar às regras do casamento, da Igreja, da cidade e do seu local de trabalho. Nem só com motivação sensibilizamos nossos colaboradores para o exercício correto e produtivo de suas funções dentro da equipe de trabalho de uma comunidade com as especificações de uma empresa.

Precisamos ter cuidado com nossas medidas sobre motivação de pessoas que trabalham sob nossa orientação e/ ou supervisão. Às vezes o que pode parecer falta de motivação pode ser falta de organização.

A motivação e a organização de uma equipe são fatores muito ligados ao posicionamento do líder. No entanto, são coisas diferentes que exigem atitudes distintas do líder com relação a sua equipe.

Motivar é papel do líder. Organizar, não. Não é incomum um líder confundir seu papel disciplinador, aquele que cobra organização e resultados, com ser ele mesmo o organizador da equipe. Explico-me. Organizar é uma responsabilidade individual e intransferível inerente a cada membro de uma equipe. Organizar é sempre comparável a dobrar um pára-quedas: cada um dobra o seu.

O papel do líder é fiscalizar a ordem estabelecida pelo conjunto de regras aceito antecipadamente por todos os membros de sua equipe. A única exceção é o líder mãe. É por isso que, até uma certa idade, todo filho sabe que não precisa acordar antes de a mãe vir acordá-lo, ainda que já tenha ouvido o despertador tocar.

Numa empresa, diferente de uma família, o líder pode, diferente de uma mãe, escolher seus colaboradores e assim procurar entre os candidatos aqueles que têm, como uma de suas qualidades, o sentido da organização, o respeito pela ordem estabelecida, ainda que não goste ou não concorde com o estabelecido. Voltando à questão da motivação, lembro que é mais fácil motivar quem trabalha por obrigação do que por gosto. Como faremos para motivar aquele que faz bem feito porque gosta do que está fazendo quando for necessário fazer algo contra seu gosto? Quem não necessariamente faz por gosto, mas faz por força da disciplina e da ordem estabelecida, facilita-nos sensivelmente a tarefa de motivá-lo. Neste caso motivá-lo significa basicamente oferecer-lhe as condições necessárias para que possa realizar o trabalho estabelecido.

Voltando ao exemplo do líder-mãe, lembro-me de que quando estudava na escola primária, minha mãe se estressava toda manhã desde minha hora de acordar até praticamente me deixar na mão da (outra exceção) líder-professora. Eu tinha acesso a todo o material necessário para estudar, mas só estudei a custo de alguns bons anos de vida da minha mãe-lider. Vinte anos depois, morava sozinho numa cidade estranha enquanto fazia a faculdade, e numa nefasta noite de inverno descobri que meu relógio quebrara e não despertaria na manhã fria do dia seguinte. Sem despertador, acordei três vezes durante a madrugada para ver as horas no relógio da calçada em frente ao prédio onde morava; acabei por levantar-me às cinco para não correr o risco de me atrasar. Tenho mãe até hoje, mas o que quero dizer é que quando lideramos alguém não é vantajoso cuidarmos dele, organizá-lo, facilitar-lhe a vida ao nosso lado naquilo que sabemos é sua obrigação.

Por isso que precisamos considerar que nem sempre nossos colaboradores estão desmotivados quando não estão produtivos. Pode ser que não estejam organizados. Na verdade, na maior parte das vezes o que nos falta para alcançarmos nossos objetivos é organização e não motivação.

A organização a que me refiro, é bom salientar, é aquela referente às nossas atividades específicas. Obviamente existe uma ordem maior cuja responsabilidade é do líder. No entanto, esse ordenamento maior, aquilo que chamamos de organização da equipe e que costumamos dizer ser responsabilidade do líder, não é outra coisa senão o resultado da soma das organizações individuais e intransferíveis de todos os demais membros da equipe. Ou seja, nenhum líder receberá congratulações pela organização de sua equipe se cada um dos seus liderados não for respectivamente organizado em suas atribuições específicas.

Vista a organização de uma equipe por esse prisma dual em que cada qual é responsável pela sua própria ordem, respeitando a hierarquia e as regras gerais da empresa e que o líder organiza na medida em que reconhece a organização de cada colaborador como em consonância com os resultados esperados da sua equipe, considero que o fator motivacional torna-se mais fácil de ser operacionalizado.

Então lembre-se de verificar, antes de concluir que sua equipe está desmotivada, até que ponto seus colaboradores estão desorganizados e quantos deles realmente estão capacitados para atuar num ambiente de trabalho que não é exatamente aquilo que ele sonhou para o resto da sua vida, ao menos enquanto ele trabalhar na nossa equipe.

Claudemir Casarin

Psicólogo-socionomista